Meus avós maternos comemorarão Bodas de Ouro semana que vem... Acho muito legal isso, acho, de verdade, bonito pacas!!! CIN-QUEN-TA anos de casamento!!!
Estávamos hoje, minha mãe, minha avó e eu, conversando sobre o fato, quando minha mãe comentou: "As Bodas de Ouro na verdade deveriam ser comemoradas em Maio do ano que vem, né? Essa é a comemoração das Bodas da fuga!!!" e elas contaram a história de como, no dia 03 de Novembro de 1955, fugiram da casa da minha bisavó e foram... pra casa da tataravó!!!
É curioso como essas histórias de família vêm à tona depois de tantos anos de convívio... você cresce, cercado por pais, tios, primos e avós, e um dia alguém faz um comentário displicente, às vezes curioso, às vezes triste, às vezes completamente bizarro sobre algo que aconteceu na sua família e sobre o qual você nunca havia ouvido falar antes... e então aquela pessoa parece tão diferente, tão mais complexa do que você imaginava... Eu não sabia que meu avô havia fugido com minha avó, e na verdade nem foi, conforme me explicaram depois, uma fuga dessas de cinema, ou daqueles livros da série Sabrina (não li nenhum, mas imagino o conteúdo)... na verdade, todo mundo meio que já sabia o que iria acontecer, eles precisavam fugir pra se casar, já que nem igreja tinha na cidade da minha avó, procuraram abrigo por um tempo na casa da Indem, e prepararam a família pra certeza de que haveria casório... no fim até que é bem romântico mesmo, né?
Porém, o real intento desse post é porque essa história me trouxe uma lembrança, algo que ouvi quando meu avô paterno faleceu... meu avô era provavelmente a pessoa que eu mais amava no mundo, o carinho que ele tinha por mim e eu por ele, a atenção que ele sempre me deu, desde pequeno, criavam um laço afetivo maior do que o que tenho com meus pais, muito maior aliás... enfim, acho que foi uma ou duas semanas depois do enterro. Estávamos todos na casa de uma tia, minhas primas e eu conversávamos com nossa avó, abraçando-a, beijando e dando muito carinho, ela retribuia tudo com muita doçura, não transparecendo a dor do luto. A vó nos contava histórias do passado, como eles tinham se conhecido... nos contou que quando casou com ele, ela gostava de outro homem, e falou desse outro homem com saudade, com aquele olhar perdido de quem ainda pensa no que poderia ter sido... Amava meu avô, mas não casou amando, demorou até que esse sentimento aflorasse nela... Contou das inúmeras tentativas que meu avô fez pra conquistá-la, sempre do seu jeito brincalhão, que manteve até bem próximo da morte (mesmo depois de um derrame que prejudicou seus movimentos e fala, quando minha avó passava, ele virava pra gente, fazia cara de criança quando vai aprontar alguma, e tascava a mão na bunda dela, acompanhado por um "Gostosa" que saía com esforço do velho alquebrado, mas sempre feliz e orgulhoso da família que havia construído...).
Fiquei um pouco triste, imaginando como deve ser difícil construir uma relação em que você não ama a pessoa a seu lado, mas resiste, aposta na confiança e aposta no sentimento do outro, que foi mais ou menos o que aconteceu com minha vó... Não passei a amar menos minha vó, depois de um tempo a tristeza deu lugar à uma admiração, maior do que a que já tinha, por minha avó e pelo meu avô, pelo amor que tiveram, e pela família, cheia de defeitos como é, que construíram...
Nenhum comentário:
Postar um comentário