2.5.05

Paixão Renovada - Parte 02

Ontem assisti ao documentário Edifício Master, do diretor Eduardo Coutinho. Trata-se de um interessante estudo antropológico, filmado inteiramente no tal Edifício Master, um prédio de apartamentos (ou deveria dizer "apertamentos"?) no bairro de Copacabana no Rio de Janeiro. O prédio, de 12 andares, com nada menos que 23 apartamentos por andar e cerca de 500 moradores, é, por si só, um personagem do filme, com seus corredores estreitos e escuros, seus apartamentos igualmente estreitos e invariavelmente escuros, já que a decoração dada pelos moradores, apesar de diversa, geralmente assume os mesmos tons opressivos, e suas janelas quase que incontáveis e quase idênticas. Apesar de não haver uma panorâmica do prédio, mostrando-o em toda sua dimensão, a mensagem é clara, trata-se de um colosso, um monstro. O filme apresenta 37 depoimentos de moradores, a maioria de idosos, aposentados, com poucas excessões. Não vou comentar nenhum em especial, apenas uns pontos em comum: a referência à solidão vem de todos os lados, representada pelo abandono dos filhos, pela falta de um amor, pelo encontro de companheiros que, resignados, se "juntam" pelo medo de uma velhice solitária; os poucos jovens apresentados fazem referências distintas à liberdade e responsabilidade, todos de maneira interessante e sob diferentes graus de maturidade; vários homens, idosos, fizeram questão de declararem-se emotivos, sentimentais, sensíveis, logo no começo da entrevista, e se entregaram com mais frequência às lágrimas que as mulheres, suas relações com o trabalho e a óbvia constatação de seu sentimento de inadequação à uma sociedade jovem, foram razões que se destacaram nessas manifestações de emotividade.

Enfim, em minha incursão por esse gênero cinematográfico, tão pouco valorizado, tive duas excelentes surpresas, que só fizeram aumentar a minha paixão pela Sétima.

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