19.9.05

Apressado...

Peguei a garrafinha do veneno e bebi um gole, foi um gole tímido, assim, um golinho. Estava me sentindo vazio, só, incompleto, entediado... Na hora me empolguei, o gosto era ruim, mas era bom, fiquei ligadão e surpreso comigo mesmo, "sério que eu tive a coragem de tomar veneno? Pára!"! Olhei bem pra garrafa, li o rótulo com atenção, lambi os beiços e virei o resto, como dizia minha mãe: "no guti-guti!"! Ri sozinho, caminhei rápido até a poltrona da sala, sentei, não queria morrer em pé. A bem da verdade, não queria morrer de jeito nenhum, não agora. Mas, ó, se morresse mesmo, foda-se!
Sentado, alcancei o controle remoto, liguei num canal de clipes (não, não aquele), morrer com música era melhor do que morrer com notícias ruins, ou qualquer outro programa entediante, descansei a garrafa de veneno na mesa, acendi um cigarro e fiquei curtindo o som, de repente, me arrependi, "Putz! Só tá passando clipe de pop tosco nessa porra!" mudei de canal, esportes: futebol, série americana melodramática, CNN en español, TV aberta... "Merda!" Nada que prestasse, nada vagamente interessante. Abri um livro, A Insustentável Leveza do Ser, grande livro, muito depressivo, "Não!", O Poderoso Chefão, intenso, clássico, "Ahh, não vai dar pra ler tudo mesmo, foda-se!", On The Road, fodão! Sal tinha acabado de se juntar com a mina mexicana, eu salivava muito, a saliva tinha um gosto muito ruim, comecei a sentir um embrulho no estômago, Sal foi trabalhar na plantação junto com a garota., me levantei e antes que pudesse chegar no banheiro caí de joelhos no chão, "Carrf, cof, errgh!!! Merda!!!". Não vomitei. Levantei-me e fui me apoiando até o banheiro, parei, olhei o espelho, eu parecia um índio albino! Ajoelhei-me na frente do vaso, olhei pro livro, Sal estava deixando Theresa, vomitei muito, mas muito mesmo!

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