10.10.05

Lavoura Arcaica

Valeu a pena esperar. Esta obra-prima, lançada, ainda que não em caráter comercial, em 2001 com exibições apenas em festivais, demorou mas saiu em DVD e assim que vi nas prateleiras da locadora, fui obrigado a espremer meus bolsos e levar pra casa. Comecei a assistir na segunda-feira da semana passada, não deu pra terminar no dia e fui criar vergonha na cara só neste sábado pela manhã. Me dou um desconto pelo fato do filme ter duas horas e cinquenta e dois minutos de Foderosismo.

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Olha, que coisa! Se eu fosse uma bicha louca, com todo o respeito do mundo às bichas loucas, eu diria que este é um filme lindo e triste de morrer. Eu, que particularmente não sou fã de filmes que optam por uma fotografia granulada (e quase todos os filmes brasileiros parecem fazer essa opção), ou cheia de contrastes fortíssimos e, normalmente, deselegantes, achei esse, com a sua abundância de sombras, contrastes que faziam parecer com que cada objeto, cada ator, cada folha de árvore preenchesse a tela, um belíssimo filme.

É longo? É! mas não acho que seja arrastado, ou cansativo.

Além de sombras, abundam silêncios que, tanto um, como o outro, são constante e bruscamente interrompidos por seus opostos. Como nas cenas passadas no quarto opressivo e sombrio da pensão onde fica André (Selton Mello) e nos campos verdes e iluminados por onde corre o André-menino (Pablo César Câncio). No silêncio sepulcral da mesa de jantar, nas matas por onde o menino André se embrenha, na capela onde reza Ana (Simone Spoladore), nos rompantes violentos de André ao narrar seus infortúnios para o irmão Pedro (Leonardo Medeiros), nos inebriantes acordes de música árabe (é árabe, não?) das festas da família, nos mesmos acordes das mesmas músicas que, no entanto, tornam-se torturantes nas cenas finais...

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Há, obviamente, alguns pequenos defeitos, como na cena, totalmente dispensável, da discussão entre André e seu irmão Lula (Caio Blat), mas nada que corrompa a integridade da obra.

Um grande filme, tematicamente complexo, pesado, com atuações, assim como alguns dos cenários, bastante teatrais, o que para mim, nesse caso apenas contribui.

Se a máxima de Paulo Emílio Salles Gomes, de que o pior filme brasileiro era melhor que o melhor filme americano, fosse proferida após uma exibição deste Lavoura Arcaica, eu bem que poderia parar por alguns segundos pra ponderar... e discordar da assertiva, ainda que torcendo pra que todas as películas brasileiras apresentassem esse nível de qualidade, só pra poder concordar com ela...

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